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Terceira onda da Covid-19 agrava adoecimento mental de profissionais da saúde

Fonte: Jornal O Povo, 18-02-22 Em certa medida, o susto inicial com o caos que chegou abruptamente junto do coronavírus passou. A cada onda, o cenário da pandemia muda. O sofrimento e o cansaço físico e mental, contudo, permanecem. Eles se acumulam e se exacerbam para os profissionais da saúde em todo o mundo.  Neste terceiro ano da […]

15.02.22 - 11H49 Por Geisa Lima

Fonte: Jornal O Povo, 18-02-22

Em certa medida, o susto inicial com o caos que chegou abruptamente junto do coronavírus passou. A cada onda, o cenário da pandemia muda. O sofrimento e o cansaço físico e mental, contudo, permanecem. Eles se acumulam e se exacerbam para os profissionais da saúde em todo o mundo. 

A médica Elodie Bomfim Hyppolito mobilizou colegas no hospital São José para requalificar espaços como o jardim (Foto: Divulgação)

Neste terceiro ano da Covid-19 no Ceará, a vacinação foi trunfo. Por outro lado, no Brasil, a chegada da variante Ômicron e a epidemia de Influenza A H3N2 concomitantemente foram prejudiciais. 

Há quase dois anos, a rotina de protocolos era extenuante. Horas e horas sem ir ao banheiro ou mesmo beber água para evitar trocar todo equipamento de proteção. Com o tempo, vieram mais conhecimentos, terapias e ajustes. Mas manter-se na lida com uma demanda atípica, acima na média, continua sendo sacrificante.

Conforme Antônio Geraldo da Silva, Presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), o percentual de profissionais de saúde com doenças mentais é alto. O questionário “Covid-19 e Saúde Mental: Como você está se adaptando?” indica que metade (49,4%) dos profissionais estavam com transtornos mentais autodeclarados. Dentre esse número, a doença mental mais identificada foi a depressão, chegando a 32,8% dos casos.

A pesquisa foi lançada pela entidade em 2020 e está em sua quarta coleta de informações. Até o momento, aproximadamente 17 mil profissionais da área de saúde responderam voluntariamente ao questionário.

Além da atuação em si, a doença trouxe uma série de outras consequências para os profissionais, destaca o psiquiatra. Algumas delas são “a insegurança financeira devido aos baixos salários, fazendo com que muitos profissionais tenham dois a três empregos e com falta de apoio institucional para exercícios da profissão”.

Com isso, há sobrecarga de trabalho, sem contar o receio persistente de se contaminar ou transmitir o vírus para entes queridos; o peso do distanciamento social; além do maior contato com a morte, segundo ele acrescenta.

Ele aponta que as queixas mais comuns estão relacionadas à depressão e ansiedade, como: insônia, pesadelos, sensação de taquicardia, somatização de sintomas físicos, sobretudo falta de ar, aumento da tristeza, falta de interesse pelas atividades de que gostava, irritabilidade descontrolada, sensação de fadiga, desgaste emocional, pensamentos negativos, ideias de que não vale a pena viver.

Antônio Geraldo da Silva frisa que o esgotamento profissional apresenta um misto de sintomas que varia em cada pessoa, podendo incluir ainda alterações no sono e no apetite, agressividade, alterações no humor, dificuldade na concentração e queda de produtividade.

“É importante deixar claro que, quando há sentimento de esgotamento de energia e sentimentos de negativismo relacionado ao próprio trabalho, e até mesmo a redução da eficácia profissional, podemos considerar como esgotamento do trabalho”, diz. 

Dentro deste contexto de enfrentamento, os profissionais de saúde que trabalham na linha de frente da Covid-19 estão mais sujeitos a desenvolverem doenças mentais. Isso porque a atividade exercida é grande desencadeadora de emoções, na análise do psiquiatra. “O contato constante com o sofrimento humano, com questões relacionadas à vida e à morte e, ainda, devido à exposição a produtos infecciosos e químicos dos hospitais podem ser fatores de risco”.